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O brilho excessivo da tecnologia

O juramento que os engenheiros fazem no dia da sua formatura fala em “não se deixar cegar pelo brilho excessivo da tecnologia”. Na época em que fiz o juramento, nem sabia que a tecnologia tinha brilho, quanto mais excessivo, inclusive com condições de cegar alguém. Passados 18 anos, tudo fica claro quando navego pela Internet. Tem muita gente cega pelo tal brilho, e nem engenheira é. Talvez seja por isso mesmo, a pessoa não teve que jurar coisa alguma e se sente livre para abusar.

 

Pelo menos, é a única explicação que eu encontro para uma loja de móveis que exige que eu preencha um cadastro para ter acesso ao seu catálogo completo. Gente, o que é isso? Onde é que nós estamos? O que é que essa gente entende por marketing? O interesse que o cliente tenha acesso ao portfólio é da loja, portanto, pela lógica, ela deveria, se não provocar sedutoramente o encontro, pelo menos facilitar ao máximo o contato.

 

Se a loja precisa (ou quer) ter informações dos potenciais clientes ou interessados, problema dela. Que ponha seus geniais executivos a pensar e invente uma maneira de convencer o internauta de que ele vai ser beneficiado com a alugação que é preencher um cadastro. E nem precisa nada de original ou criativo, basta oferecer um brinde ou propor um sorteio. O que não pode é colocar um gorila desses na porta da loja, que só deixa você ver a vitrine. Para entrar no recinto, só preenchendo o tal cadastro.

 

Tem também aqueles sites que exigem que você mude a resolução do seu computador para visualizá-lo melhor (não é o máximo da presunção?), que instale um plug-in que você não está interessado ou permita que cookies metidos fiquem xeretando a sua máquina. Tudo isso para você apenas descobrir o telefone da loja.

 

Coerência e profissionalismo para quê? Não é incomum o e-mail de contato para a loja ser algumacoisa@hotmail.com ou fulaninha@yahoo.com.br, sem contar as versões palavraqualquer@terra.com.br. Se eles têm um domínio, por que não o usam para todas as comunicações profissionais da empresa?

 

 

Outro lembrete: o mundo não se resume a Windows. Uso um Mac e tenho muitas dificuldades quando, vira e mexe, vou fazer a reserva em um hotel e depois de me irritar preenchendo o tal cadastro, a coisa simplesmente trava porque não é compatível com o meu navegador. Ligo para lá reclamando e a mocinha diz que eles testaram e não acharam nada, o problema deve ser meu mesmo, é claro. Uma me sugeriu candidamente que eu trocasse de computador. É mole?

 

Isso sem contar que os tais sites, como está se tornando moda, geralmente são construídos em Flash*. Sim, admito um certo preconceito, mas ODEIO sites em Flash (se eu tivesse paciência e tempo sobrando, criaria uma comunidade no Orkut com esse fim). Quando vejo aquele símbolo que diz que você vai esperar eternos segundos cada vez que ousar clicar em um opção, já desisto.

 

Nada contra a ferramenta, que é muito poderosa e permite animação e interatividade como nenhuma outra. Todas aquelas micagens que você sempre sonhou, mas que na prática não servem para muita coisa, estão lá, à sua disposição. Com Flash, o impossível não existe. Isso significa que você pode ter uma espetaculosa e criativa página de abertura sem nenhuma informação útil, mas que mostra como você é inovador, talentoso e irritante!

 

Os sites criados em Flash são lindos, fofos, originais, mas é só. A maioria é como loiras burras. Muito engraçadinhos, mas você pena para obter as informações que precisa. Quando vejo um site assim lembro logo de uma frase que ouvi uma vez de um sábio pedreiro (que não entendia nada de programação): “moça, para quem só tem martelo, tudo é prego!”. Ou seja: se uma cara faz um curso de Flash, quer usar essa ferramenta em todos os lugares e usar todas as suas potencialidades. E dá no que a gente vê.

 

A culpa não é da ferramenta, o poder cega mesmo. É preciso um webdesigner muito racional e comedido para resistir às tentações e realmente projetar um site pensando nos interesses do usuário. E com muito talento persuasivo para convencer o cliente de que os visitantes podem não achar legal que os botões fiquem pulando e trocando de lugar o tempo todo, apesar disso ser possível de se fazer, sim. Que ter login e senha é muito chique, mas as pessoas não querem ter que decorar mais uma combinação por motivo tão fútil e irrelevante. Que ninguém gosta de preencher cadastros, a não ser que ganhe alguma coisa com isso (alguma coisa de verdade, não apenas o “direito” de entrar na loja). Que ninguém tem tempo de ficar esperando uma tela ser lentamente construída na sua frente para depois descobrir que aquilo não tinha funcionalidade nenhuma, foi só tempo desperdiçado mesmo. Que usabilidade é a coisa mais importante na web! Que beleza fútil enjoa.

 

Fica aqui uma sugestão para o juramento dos designers (e dos administradores, publicitários, jornalistas e mais tantos outros profissionais). Incluam, por favor, a tal cláusula sobre o brilho da tecnologia. Pode até não resolver, mas penso que mal não faz…

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Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

 

* Adobe Flash, antigo Macromedia Flash e mais antigamente ainda, FutureSplash.

 

Publicado por Lígia Fascioni

Lígia Fascioni é engenheira eletricista, especialista em marketing, mestre em automação e controle industrial e doutora em engenharia de produção na área de gestão integrada do design. Publicou "Quem sua empresa pensa que é?" (2006), "O design do designer"(2007), "Atitude profissional: dicas para quem está começando" (2009) e "DNA Empresarial" (2010). Atua como consultora empresarial e palestrante. Ministra disciplinas em cursos de graduação e pós-graduação (MBA) em marketing, inovação e design. Mantém o site www.ligiafascioni.com.br e www.atitudepro.com.br. É colunista do portal Acontecendoaqui.com.br e colabora com diversos sites e blogs sobre marketing e design.

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