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Karim Rashid

Há alguns meses tive o imenso prazer de assistir a uma palestra do André Villas-Boas, um jornalista que virou designer, e dos bons. O André já publicou alguns livros, entre os quais o antológico “O que é e o que nunca foi design gráfico. Vou tentar compartilhar um pouquinho o que aprendi com ele nesse encontro.

O título da palestra era “Delimitação disciplinar”, que, segundo o autor , é um tema essencial para que a gente possa entender o que é que faz um designer ser reconhecido como tal.

Primeiro veio a definição de disciplina: é o ramo de conhecimento com o qual uma profissão se ocupa. E essa disciplina é reconhecida pela sociedade por 4 aspectos:

  1. O objeto: Um médico, por exemplo, se ocupa de tratar da saúde de uma pessoa sob o enfoque da doença, e todo mundo sabe disso. A doença é o objeto da medicina. A construção de edifícios é o objeto da engenharia civil. O projeto de produtos gráficos e tridimensionais é o objeto do designer, mas muitas pessoas não sabem disso, confundindo as áreas de atuação.
  2. O léxico, ou a terminologia: é a linguagem que o profissional usa para tratar do objeto de seu trabalho. Fonoaudiólogos têm um palavreado todo próprio, adequado para explicar as especificidades da profissão. Jornalistas, publicitários, advogados, engenheiros, idem. Os designers teimam em não usar o seu (ele citou como exemplo a famigerada logomarca, criada e usada no meio publicitário, mas que acaba sendo usada também por designers, mesmo não se sustentado tecnicamente. Designers deveriam usar as várias denominações corretas que estão à sua disposição: marca gráfica, identidade visual, etc).
  3. A metodologia: São as etapas, as técnicas, os métodos e os procedimentos próprios de cada profissão. Por ter muita gente atuando sem formação específica na área do design, nem sempre o método mais adequado é utilizado, fazendo com que o processo de criação seja muito intuitivo, e, portanto, mais identificado como arte do que como técnica. Esses dias conversei com uma manicure que me explicou que, na sua área, técnica é uma coisa muito séria e cobrada em todas as escolas. Na arquitetura, na odontologia, na fisioterapia também é assim. Por que será que só os designers acham que não precisam?
  4. A tradição fundadora: É a história da profissão, que legitima os modelos utilizados atualmente, pois são referenciados nas experiências passadas. Esses modelos são selecionados por meio de uma construção histórica com o intuito de valorizar e aprimorar o trabalho. Assim, hoje se faz uma cirurgia plástica utilizando técnicas que evoluíram ao longo da história da profissão. No design, já há história suficiente para fundamentar os atuais modelos. Por que os designers não explicam isso aos seus clientes?

Pois é. O André defende que a disciplina tem que ser delimitada justamente para haver autonomia de campo. Eu explico: a disciplina do design deve ser reconhecida socialmente pelas demais. Assim, para um assunto relacionado ao design, sempre se vai consultar um profissional dessa área, e não de outra, como acontece atualmente. Não passa pela cabeça de ninguém entrevistar um publicitário para falar sobre os avanços na pesquisa da AIDS (esse é um campo delimitado da medicina e das profissões do campo da saúde). Mas vira e mexe tem gente dando palpite sobre design sem ter nada a ver com a área.

Pense bem. Quem decide o que é arte? Os profissionais dessa disciplina, desde artistas a críticos especializados, passando por professores e curadores. Quem decide se o projeto de um edifício está bem feito? Os engenheiros e seu Conselho Regional. Já no design, qualquer um sente-se à vontade para alterar completamente um projeto gráfico ou de produto, sem a menor inibição. Isso quando não oferece esse serviço a terceiros, como é muito comum. Já vi vários escritórios de arquitetura oferecendo serviços de identidade visual com a maior desenvoltura.

Finalizando, o designer não é valorizado como profissional porque não se distingüe, não se posiciona, não se diferencia. Não deixa claro o objeto do seu trabalho quando atua em outras áreas (inclusive nas artes) usando o mesmo título profissional. Você já viu sair numa nota de jornal que as jóias da coleção foram criadas pelo médico fulano de tal? É que o cara não usa o seu título de médico para divulgar esse talento paralelo. Pois é, mas você cansa de ler que o cenário da peça de teatro foi criada pelo designer fulano de tal, e criar cenários não são objeto da disciplina design. É assim que a confusão começa. O designer também não usa os termos próprios da sua profissão (muitos nem os conhecem), não deixam claro para seus clientes a técnica projetual utilizada (e os pobres ficam achando que é pura inspiração), não fundamentam a escolha do método no registro histórico.

Não me admira que qualquer um se ache designer! Não me admira que não se consiga identificar um designer no meio de uma multidão. Aliás, está cheio de designer que nunca ouviu falar no André Villas-Boas e não tem sequer um livro de referência na estante. E não estou falando de micreiros não, estou falando daqueles com diploma mesmo!

Profissionalismo é a palavra-chave para qualquer um que queira ser respeitado na área em que escolheu para ganhar a vida. E isso implica fazer a lição de casa. Não é isso, André?

Lígia Fascioni |www.ligiafascioni.com.br

Publicado por Lígia Fascioni

Lígia Fascioni é engenheira eletricista, especialista em marketing, mestre em automação e controle industrial e doutora em engenharia de produção na área de gestão integrada do design. Publicou "Quem sua empresa pensa que é?" (2006), "O design do designer"(2007), "Atitude profissional: dicas para quem está começando" (2009) e "DNA Empresarial" (2010). Atua como consultora empresarial e palestrante. Ministra disciplinas em cursos de graduação e pós-graduação (MBA) em marketing, inovação e design. Mantém o site www.ligiafascioni.com.br e www.atitudepro.com.br. É colunista do portal Acontecendoaqui.com.br e colabora com diversos sites e blogs sobre marketing e design.

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