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Livrarias de aeroporto são pródigas em best-sellers de negócios e auto-ajuda, mas, garimpando bem, é possível encontrar verdadeiras jóias. Foi em Brasília que descobri “A evolução das coisas úteis: clipes, garfos, latas, zíperes e outros objetos de nosso cotidiano”, de Henry Petroski. Ele conta a história do design partindo de objetos do dia-a-dia que um jeito muito original e bem fundamentado.

Petroski pauta a história da evolução dos objetos a partir de algumas premissas muito interessantes que valem a pena conhecer. Vamos lá:

1. O luxo é a mãe da evolução. É o desejo, e não a necessidade, que impulsiona o desenvolvimento tecnológico. Segundo ele (e não dá para contestar), a gente precisa de água, mas daria para sobreviver numa boa sem gelo ou ar-condicionado. Ninguém morre se não tiver um iPod para chamar de seu e todas as gerações, exceto a última, conseguiram namorar tranqüilamente sem telefone celular e internet. São justamente aqueles pequenos luxos e comodidades os motores da inovação e da evolução das coisas. Maslow já tinha apontado esse caminho na sua famosa pirâmide, lembram?

2. A forma não segue a função; segue as falhas. Aqui aparece uma citação debochada e muito boa de um estudioso do design, David Pye, que declara, com todas as letras, que “a função é uma fantasia”. Ele ridiculariza a idéia de que uma coisa tem determinada aparência “porque precisa ser assim”: “O conceito de função em design (…) poderia merecer alguma atenção se as coisas invariavelmente funcionassem. Na verdade (…) nosso motivo inconsciente de fazer tanto trabalho inútil seria mostrar que, se não somos capazes de fazer as coisas funcionarem direito, pelo menos podemos fazer com que tenham boa aparência”. Exageros à parte, no fim é isso mesmo: não há objeto conhecido que funcione com perfeição, por isso é que tudo está sempre mudando e evoluindo. Sobre a teoria funcionalista, o autor apresenta ainda uma pérola de Adrian Forty: “Poderíamos dizer que os 131 diferentes designs criados por Montgomery Ward para os canivetes sejam resultado da descoberta de novos modos de cortar?”. Se a forma realmente seguisse a função, todos os objetos com a mesma função convergiriam para a mesma forma. Senão, como explicar a coexistência de talheres como garfo e faca e os hashis, aqueles palitinhos japoneses? A função (ajudar a comer) não é a mesma? Petroski mostra que a forma vai evoluindo à medida que as falhas vão sendo solucionadas em cada contexto.

3. O designer precisa escolher as falhas que irá manter no projeto. Pois é, partindo-se do princípio que não há objetos perfeitos e que alguns requisitos são sempre contraditórios, o designer precisa optar entre as falhas que irá manter e aquelas que irá corrigir ou eliminar. É nessa capacidade de decidir o grau e o lugar onde recairá a imperfeição que mora o talento de um bom profissional. As concessões variam: custo, peso, estética, segurança, conforto, mensagem; equilibrar tudo isso em um objeto só é tarefa para poucos.

4. O designer é um observador pró-ativo. Está no livro: designers são pessoas que não apenas xingam, mas logo se põem a pensar o que pode ser feito para eliminar o aborrecimento. Lawrence Kamm, outro estudioso citado, aconselha quem se dedica ao design a observar todos os objetos ao seu redor e se perguntar continuamente: “por que foram feitos assim?”; “como poderiam ser aperfeiçoados?”. Raymond Loewy, um dos primeiros designers da história dos Estados Unidos, afirmava que “grande parte dos mais ilustres engenheiros, gênios executivos e gigantes financeiros parecem viver num vácuo estético”. Sei não, mas não me canso de me surpreender com a total incapacidade de alguns estudantes de design (e até profissionais) de se incomodar com a desarmonia e o mau design. Se eles sequer notam o mundo à sua volta, como podem contribuir para melhorá-lo?

5. O registro de patentes pode atrapalhar o desenvolvimento de novos produtos. Essa é a tese mais polêmica. Petroski defende que, se os designers (ou inventores, como ele volta e meia os chama) não estivessem tão preocupados com seus direitos autorais, poderiam trabalhar mais em equipe e aproveitar pontos de vista alheios para a evolução de seus produtos. Cita vários exemplos de projetos que foram concebidos isoladamente e em segredo, mas que poderiam ter se beneficiado mutuamente com o compartilhamento das experiências.

6. As pessoas não gostam de inovações radicais. Bem, essa não é realmente nova. O ser humano detesta mudanças e resiste bravamente a quaisquer soluções muito diferentes daquelas que ele já conhece, é fato. Loewy criou até uma sigla para descrever o fenômeno: MAYA (Most Advanced Yet Acceptable). Assim, é preciso mudar aos poucos e de maneira a conservar algumas formas conhecidas, sob pena das pessoas rejeitarem a novidade. John Heskett, outra referência de respeito, diz que os designers devem “buscar um equilíbrio delicado entre a inovação, para criar interesse, e elementos que possam ser identificáveis para transmitir confiança”. É isso: inovação ma non troppo!

Tem muita coisa mais, como a história completa da 3M (eu só conhecia a parte do Post-It), estudos aprofundados sobre os objetos do título e a descrição de perfis inovadores e empreendedores.

Eu não sei quanto a você, mas eu vou colocar esse livro no topo da lista dos meus objetos úteis.

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

Publicado por Lígia Fascioni

Lígia Fascioni é engenheira eletricista, especialista em marketing, mestre em automação e controle industrial e doutora em engenharia de produção na área de gestão integrada do design. Publicou "Quem sua empresa pensa que é?" (2006), "O design do designer"(2007), "Atitude profissional: dicas para quem está começando" (2009) e "DNA Empresarial" (2010). Atua como consultora empresarial e palestrante. Ministra disciplinas em cursos de graduação e pós-graduação (MBA) em marketing, inovação e design. Mantém o site www.ligiafascioni.com.br e www.atitudepro.com.br. É colunista do portal Acontecendoaqui.com.br e colabora com diversos sites e blogs sobre marketing e design.

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