Notice: A função add_theme_support( 'title-tag' ) foi chamada incorretamente. O suporte para o tema title-tag deve ser registrado antes do gancho wp_loaded. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 4.1.0.) in /home/design/public_html/wp-includes/functions.php on line 6031

neo_interrogation

Dia desses, conversando com uma das professoras de design mais competentes que conheço, caímos na seguinte discussão: ela afirmava que o bom design não precisa ser explicado; ele deve ser automaticamente entendido. Uma boa marca gráfica prescinde de justificação teórica ou conceitual.

 

 

A Cristina tinha argumentos irrefutáveis: o primeiro é que na prateleira do supermercado não vai ter um designer para explicar a cada cliente o que a marca significa; o segundo é que tem muita gente que primeiro elabora uma solução gráfica e só depois é que procura uma explicação aceitável para conceituar o que fez, o que dá origem àqueles discursos de gente maluca cheio de palavras difíceis e que ninguém entende.

 

 

Pois é. Não posso deixar de concordar com a Cristina, mas faço exatamente o oposto com meus alunos: exijo que eles me expliquem de uma maneira muito convincente o motivo de terem escolhido as formas, as cores, a família tipográfica e até os alinhamentos. E faço isso com muita convicção, apesar de entender perfeitamente o argumento contrário. Discordo da corrente de profissionais que defende que o designer precisa ter domínio da expressão gráfica ou formal, mas não necessariamente da verbal ou escrita.

 

 

Sei que parece um paradoxo, mas entendo que a minha abordagem e a da Cristina são perfeitamente compatíveis. Diria até que são complementares. Olha só.

 

 

Cresci em Campinas, no interior de São Paulo. No centro da cidade havia um teatro de arena, e freqüentemente havia espetáculos gratuitos da orquestra sinfônica. O maestro Benito Juarez sempre usava um tempo da apresentação para explicar as peças que seriam tocadas e o papel de cada instrumento. Música é um pouco como design: a gente entende logo de cara, ou não. Eu gostava da música, mas me encantava também com as explicações. Depois de cada “aula”, passava a prestar muito mais atenção nos detalhes, nos tempos. Observava as diferenças entre os metais e as cordas. Admirava muito mais o trabalho dos músicos, pois, mais do que gostar, eu começava a entender o que estava ouvindo. Se um dia eu tiver que contratar uma orquestra, certamente as informações me ajudarão muito.

 

 

Há poucos assuntos no mundo pelos quais eu não me interesso: luta de boxe é um deles. Pois um dia, sentada no sofá ao lado do meu tio, consegui assistir a uma luta inteirinha, só porque ele se deu ao trabalho de me explicar as regras e o significado de cada movimento. Continuo sem morrer de amores pelo esporte, mas hoje respeito muito mais seus profissionais.

 

 

Penso que a diferença das abordagens está exatamente neste ponto: uma coisa é eu gostar de uma marca ou um objeto. Outra, bem diferente, é entendê-los. O objetivo do design é interagir com o ser humano, sensibilizá-lo, tornar a vida dele melhor. É claro que a afinidade deve surgir instantaneamente, no momento do contato. Um pacote de biscoitos atrai ou não uma pessoa, independente das explicações que o designer possa ter sobre o método projetual.

 

 

Só que, ao apresentar o projeto para seu cliente, penso que o designer tem sim que fundamentar todas as suas escolhas, de preferência, por escrito. Concordo com a Cristina que algumas explicações são tão surreais que parecem mais um amontoado de palavras-chave que não significam nada. Para mim, isso só evidencia que o sujeito inventou a justificativa depois. Quem sabe o que faz tem explicações simples, claras, sucintas e convincentes. E, mais do que valorizar o seu trabalho, protege o projeto de palpites alheios sem fundamentação. Ademais, se o projeto é mesmo ruim, não tem texto maravilhoso que o conserte. Se ele é ótimo, qual é o problema em explicá-lo?

 

 

Acredito que os designers precisam continuar criando objetos que falem por si, mas também têm o dever de educar as pessoas sobre a sua profissão, para que elas não apenas gostem, mas realmente entendam o que é design. Do meu ponto de vista, as palavras são indispensáveis nesse processo.

 

 

É isso, Cristina. Para mim, o bom designer deve criar objetos que prescindam de explicações, mas ele deve tê-las sempre disponíveis para o caso do cliente ser um engenheiro…

 

 

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

Publicado por Lígia Fascioni

Lígia Fascioni é engenheira eletricista, especialista em marketing, mestre em automação e controle industrial e doutora em engenharia de produção na área de gestão integrada do design. Publicou "Quem sua empresa pensa que é?" (2006), "O design do designer"(2007), "Atitude profissional: dicas para quem está começando" (2009) e "DNA Empresarial" (2010). Atua como consultora empresarial e palestrante. Ministra disciplinas em cursos de graduação e pós-graduação (MBA) em marketing, inovação e design. Mantém o site www.ligiafascioni.com.br e www.atitudepro.com.br. É colunista do portal Acontecendoaqui.com.br e colabora com diversos sites e blogs sobre marketing e design.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *