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Decepção? Sim, mas com esperança.

Escrevo este post como continuação do post “Deus-igners, especulações e outras coisas perigosas“. O post teve uma excelente repercussão, com 33 comentários (5 são meus), o que é um indício de que serviu para fomentar a discussão e fazer muitos pensarem no tema da qualidade do ensino e prática do design no Brasil. E isso me dá motivos para crer que há esperança de melhora. 🙂

Algumas pessoas notaram o caráter ácido daquele post. Sim, era pra ser mesmo ácido, não pra gerar uma reação química, mas uma reação nos pensamentos, corroer o conformismo e a passividade.

O texto, conforme bem apontou Guilherme Serrano, tem pitadas de decepção com o comportamento especulativo de alguns designers e professores.

A crítica principal recai sobre as faculdades de design, que utilizam bibliografia ultrapassada e questionável como base para ensinar os alunos, repetem “receitas” sobre como fazer design e que raramente são questionadas.

Analise a seriedade da situação: alunos que saíram do segundo grau, com seus 17 ou 18 anos, entram numa faculdade de design, precisam sair da condição “não sei por onde começar a fazer design” e pra isso começam a receber informações do tipo “faça assim e os problemas de design serão resolvidos”.

Só que muitos alunos ficam refém de muitas informações que são puramente especulativas. Pra citar apenas um exemplo, um dos mais famosos livros brasileiros adotados pra ensinar Teoria da Cor, em muitas faculdades de design e publicidade, tinha erros grosseiros nas suas primeiras edições. Ensinava que as cores primárias subtrativas são azul, vermelho e amarelo (na verdade são ciano, magenta e amarelo). Esse erro foi corrigido nas edições posteriores, mas quem só leu a primeira edição saiu por aí repetindo esse e outros conceitos incorretos. Se, até num conceito passível de comprovação, um livro-base erra, quem dirá em outros conceitos que tem alta carga de subjetividade?

Pra ilustrar melhor: eu chego numa eletrônica, peço pra consertar meu leitor de DVD e o técnico me diz que o “módulo de retificação” está com problemas e precisa ser trocado. Eu sou completamente leigo em eletrônica. Como vou saber se o que ele me diz é verdade ou não? As opções neste caso seriam: consultar outros técnicos, procurar informações sobre o tal módulo de retificação, enfim, verificar se aquilo que está sendo dito é, de alguma maneira, confiável. Ou, posso usar a opção mais cômoda: o técnico diz, eu acredito cegamente e pago pra consertar o aparelho. Pra quê me dar ao trabalho de ficar comprovando tudo o que eu ouço?

Mas no caso do design gráfico, o buraco é mais embaixo. Alguns alunos vão pras faculdades, aprendem um monte de informações, transformam isso tudo em conhecimento e vão pro mercado de trabalho. Daí, fazem os projetos e usam seu know-how para justificar suas decisões para o cliente. Ou não justificam nada, simplesmente apresentam e dizem: “pronto, aí está seu projeto”. O cliente pensa: “estou colocando a imagem da minha empresa nas mãos dessa pessoa, estou pagando 3.000 reais para acreditar que essa solução irá resolver meu problema. Será que eu posso confiar nela?” Se o designer fez decisões informadas, utilizando conhecimento válido (e muitos fazem isso), ótimo, seu papel profissional foi cumprido. Mas isso não acontece sempre, pois muita gente sai por aí repetindo as lendas urbanas do design, diminuindo as chances de um projeto funcionar. O problema fica sem solução, o cliente fica sem resultado e quem paga o pato são os outros designers sérios, já que o cliente tende a generalizar e achar que esse tal de “design” é só um nome chique pra enrolação. Pra que pagar 3.000 reais se meu sobrinho entrega a mesma qualidade por 100?

Muitos designers simplesmente PARAM de estudar depois que se formam. Simples assim. Alguns continuam estudando, se atualizando, lendo blogs de conteúdo, comprando livros confiáveis, sentando numa mesa com outros designers pra tomar um chopp e refletir sobre sua atuação profissional etc. Já outros designers formados trabalham o dia todo, chegam em casa à noite e só querem um banho e cama. Estão cansados demais pra continuar estudando design e se mantendo em dia. PDF X-3a? Sistema Acrobat.com? Fluxo editorial colaborativo não-linear? Arquitetura da informação? Componentes voláteis orgânicos em tintas? Design ecoeficiente? Pra quê?

Ou seja, pra muita gente o aprendizado sobre design começou e terminou na faculdade. Se, na faculdade, ele aprendeu a questionar o ensino, fazer críticas e defender um conhecimento de qualidade, ótimo. Agora se, ao invés disso, aprendeu coisas que são mitos, história da carochinha, como pretendo provar nos próximos posts, esse designer tem um problema. Os clientes tem um problema. A sociedade tem um problema.

Logo, minha “decepção” é voltada para os professores de faculdades que enrolam os alunos, e para os alunos que aceitam passivamente tudo que escutam. Se você não está em nenhum desses 2 grupos principais, ótimo. Junte-se aos designers que pensam e refletem sobre a profissão e divida seu conhecimento. Todos sairão ganhando.

(P.S.: Essa é minha visão pessoal e parcial. Conto com os comentários de vocês para saber o que acham dessa situação e até para me deixar feliz, provando que estou enganado, que nas suas faculdades isso não acontece e que não há motivo para decepção).

Publicado por Ricardo Martins

Ricardo Martins é professor de tipografia, metodologia visual, projeto de embalagens e design avançado de identidade visual da Universidade Federal do Paraná. Além de professor na UFPR, atua como designer gráfico freelancer desde 1993. É diretor institucional da ProDesignPR (www.prodesignpr.com.br), membro do Type Directors Club de Nova Iorque (EUA), da Sociedade Brasileira de Design da Informação (SBDI) e do Communication Research Institute, em Melbourne (Australia).

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